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Gare Marítima

Exposta a necessidade e urgência de se dotar o porto de Lisboa de instalações condignas ao serviço de passageiros, são encomendados, em 1934, ao arquitecto Porfírio Pardal Monteiro, um dos protagonistas da viragem modernista da arquitectura portuguesa, os projectos para as gares de Alcântara e da Rocha Conde d’Óbidos. Pardal Monteiro, convida José de Almada Negreiros, figura ímpar no panorama artístico português do século XX com quem já tinha trabalhado noutros projectos de relevo, para animar com pinturas murais, as paredes dos grandes vestíbulos das gares que, na última, representam com certa candura, os vários misteres, personagens e emoções ligados à actividade portuária da época. De certa forma polémicos pela sua crueza, impressionaram pela sua escala e a do próprio edifício, a miríade de passageiros que por lá passaram durante décadas. A gare, com os seus 130 metros de comprimento e o terraço-varanda que se estende para lá dos seus limites, permitiam o embarque e desembarque de três navios em simultâneo.

Praticamente desactivada depois de anos de decadência provocada pela concorrência dos meios de transporte aéreo e a mais recente transferência da maioria das operações de navios de cruzeiro para um novo terminal, a Gare Marítima da Rocha Conde d’Óbidos foi classificada em 2012 como Monumento de Interesse Nacional e, apesar de reunir o nome de dois vultos ligados à arte portuguesa contemporânea numa única obra, está, a par da sua irmã mais velha de Alcântara, de certa forma esquecida.

Museus em antigas estações de caminho-de-ferro ou centrais de energia eléctrica como o de Orsay em Paris ou a Tate Modern em Londres, livrarias em antigas igrejas como a Selexyz Dominicanen em Maastricht ou clubes privados como o Ten Trinity Square na antiga sede da Autoridade Portuária de Londres e como o que aqui se tentou representar, são exemplos das variadas possibilidades de dar novas vidas a velhos monumentos, preservando e transformando-os em novos locais de encontro, onde as pessoas podem ganhar novas perspectivas sobre a cidade, passar o seu tempo, partilhar histórias e ao mesmo tempo reavivar o interesse pelo património edificado histórico e referências culturais.

Fotografia de Vitorino Braga
"ATÉ HOJE FUI SEMPRE FUTURO."

ALMADA NEGREIROS

“O Clube, na acepção geral do termo, pode ser considerado uma das primeiras manifestações do natural gregarismo e inclinação social do homem.”

Club Life in London, John Timbs, 1866