Biblioteca Nacional
Criada por alvará régio em 1796 com o nome de Real Biblioteca Pública da Corte, a actual Biblioteca Nacional de Portugal somente teve a sua morada definitiva mais de cento e setenta anos depois, após passar por duas outras que se souberam sempre provisórias. Tendo começado a ser projectada em 1952, a nova biblioteca, a primeira em Portugal a ser concebida modernamente como tal, foi a derradeira obra do arquitecto Porfírio Pardal Monteiro, concluída em 1969, já após a sua morte, como concretização do propósito formulado por D. Maria I de dotar a Real Biblioteca com um "próprio e competente edifício com todas as suas respectivas acomodações e oficinas". À época da inauguração, o segundo maior edifício de Portugal, fecha uma extensa lista de concretizações que pela sua arquitectura moderna e pela escala da intervenção urbana, revolucionaram Lisboa.
Produzir uma obra que parecesse sempre ter existido, parece ter sido o propósito monumental de Pardal Monteiro, desejando que ultrapassasse o período em que foi criada, constituísse herança para as gerações futuras, tornando possível um presente eterno. A Biblioteca, constituída por quatro volumes de diferentes dimensões e formas arquitectónicas, reflecte a lógica da Arquitectura Funcional e desconstrói a arquitectura monolítica de carácter mais ou menos monumental, até então mais comum neste tipo de obra. Organizada à volta de um pátio ou praça interior destinada a eventos culturais, foi projectada em função dos seus três "movimentos": o dos leitores, o dos livros e o dos funcionários, num triunfo da arquitectura sobre o caos, em que são estudados ao detalhe, a iluminação, a acústica e os circuitos, de maneira a que o afã de uns não interfira com o silêncio e concentração de outros. Esse trabalho, perceptível ao longo de todo o edifício, tem a sua expressão máxima no tecto da Sala de Leitura Geral concebido por Daciano da Costa que, depois da experiência no edifício da Reitoria da Universidade, voltou a ser chamado a fazer a arquitectura de interiores pelo arquitecto António Pardal Monteiro que deu continuidade ao projecto após a morte do seu tio. As extremidades das enormes vigas de madeira que o dominam, como que pairando abaixo da laje de cobertura, interrompem-se no vazio sem qualquer apoio aparente e enquadram uma extensa superfície horizontal de vidro opalino, como uma grande clarabóia contínua, que com as grandes paredes envidraçadas, providencia a iluminação necessária, e o conjunto surge como uma memória do esqueleto do edifício que fica oculto, ao mesmo tempo que assegura as condições acústicas e climatização necessários ao desempenho efectivo da sala.
Responsável pelo Depósito Legal, a Biblioteca Nacional mantém, em caixa-forte e no seu volume mais proeminente, a chamada Torre do Depósito, que juntamente com a Sala de Leitura é, de certa forma, a sua razão de ser, um acervo de cerca de cinco milhões de documentos, entre o Fundo Geral e as suas colecções de periódicos, manuscritos antigos e impressos raros, cartografia, iconografia e música que continuam a ser consultados, anualmente, por cerca de cinquenta mil leitores.
"Salve, ó meus livros, livros escolhidos
Por vossos próprios méritos sublimes,
Minha saúde e vida, meus prazeres;
Mimos dos olhos meus, altas delícias
Do meu esp'rito, que vos ama terno:
Qu'seria de mim, se o iníquo fado
Me forçasse a viver de vós ausente!"
Poesias de Elpino Duriense, nome arcádico de António Ribeiro dos Santos, canonista, jurista, historiador e primeiro Bibliotecário-Mor da Real Biblioteca Pública da Corte